Venho aqui comentar essa tendência de jogos episódicos que cada vez mais aumenta na nossa querida indústria. Já havia mencionado isso brevemente na resenha do Resident Evil Revelations 2 e agora vou elaborar um pouco mais. Parte da minha motivação é advinda do recente anúncio ou esclarecimento de que o Final Fantasy VII será multi-jogos e não episódico como anunciado anteriormente. E também do novo Hitman.
Primeira temporada

O primeiro jogo que saiu nesse formato foi o Back To The Future da Telltale, em 5 episódios. Cobrado como Season Pass, onde por um preço reduzido, o gamer teria acesso ao conteúdo conforme fosse saindo; também podendo ser adquirido por episódio separadamente por um preço maior.
De cara digo que este formato não é tão ruim assim, mas o ponto primordial é a periodicidade. Qual é a brecha de lançamento ideal para que o gamer não se sinta desamparado? Ou até mesmo enganado pelo formato? Explico.
Resident Evil Revelations 2 saiu neste formato, eu mesmo questionei isto. Afinal é um tipo de jogo cujo estilo não combina muito bem. E lá foi a Capcom, colocou os lançamentos semanais, tal qual um sitcom americano. Ao final do período seria lançada a versão física sem o impacto do formato. E claro, tudo isso com diversos preços diferentes, que até mesmo confundem o consumidor.
Os episódios saíram em um intervalo tão curto que eu me perguntei porque eu não tive acesso a tudo de uma vez. Afinal, o jogo, apesar do seu formato, não estava estruturado tão bem quanto um da Telltale. O jogo é legal, mas como experimento falhou.
Life is Strange vai no outro espectro. O espaçamento foi muito largo, demorando quase que o ano inteiro para ser completamente lançado. Entretanto estava muito bem estruturado para ser episódico, ele foi pensado assim. Saiu como Season Pass e episódios individuais e ao contrário de REvelations 2, apenas meses depois que a versão física saiu.
Segunda temporada

Um outro conceito introduzido no formato, pela Telltale, é o de uma história contínua (ou mundo contínuo), dividida em temporadas. Conceito este que não está incluso nos jogos previamente mencionados e também no King’s Quest (que já foi objeto de discussão nos nossos comentários, mas por outros motivos). Este conceito também é derivado das famosas séries americanas. É bastante interessante, principalmente pela progressão e acompanhamento dos personagens, mas pode sofrer dos mesmos problemas que as séries. Os fillers. Crítica que foi dirigida a segunda temporada de TWD.
No longo prazo parece ser uma boa alternativa de valor, visto que se o gamer estiver engajado, ele vai continuar acompanhando. Novamente se faz necessário o comentário da periodicidade dos lançamentos. Até quando é razoável a espera? O intervalo entre temporadas será fixo? Quantas temporadas serão lançadas? Por ora não sabemos exatamente, principalmente pelo fato de que a Telltale está com muitas franquias concorrendo por sua atenção, alguma coisa vai ter que ceder, como foi o jogo do Game of Thrones, que claramente tem uma qualidade inferior.
Terceiro episódio

Chegamos ao caso Hitman que ao ser anunciado na E3 2015 nada foi mencionado sobre a sua natureza. Parece que foi uma mudança feita no meio do percurso. Todos pensavam ser mais um da franquia. Até que no início de 2016, a Square veio com o papo de que o jogo seria episódico. Automaticamente fiz a associação aos demais jogos mencionados. Mas aqui é um pouco diferente, com o subtítulo de “Enter a World of Assassination”, nós somos apresentados ao um mundo de Hitman, que será populado a cada episódio lançado. E claro, com múltiplas versões de lançamento, com diversos preços. Até mesmo a versão física não vem com jogo, mas sim com o voucher para a versão digital.
De cara no lançamento, já estão disponíveis 3 áreas de exploração livre, seis missões de campanha, 40 assassinatos especiais e até mesmo eventos semanais. Acho interessante, pois o Hitman parece uma plataforma que pode ser populada de conteúdo enquanto houver suporte ao jogo. Independente da história, que se passará após os eventos do competente Absolution, o jogo se coloca como um playground que o gamer poderá se esbaldar de inúmeras formas. Parece interessante.
Season finale

Voltando com o Final Fantasy VII, já havia estranhado muito quando o jogo foi anunciado como episódico, afinal como dividir um jogo dessa magnitude? Além que os jogos episódicos tem saído por um preço inferior ao normal (já com uma exceção que é o Hitman). Aí a Square me vem com a “novidade” que FFVII sairá em vários jogos completos. De cara, é óbvio que isso cheira a cobrar full price em todos os jogos.
O exemplo que os produtores utilizaram é o de que FFXIII saiu da mesma forma, que era uma mesma história e mundo contados com diversos pontos de vista. O que todos sabemos hoje é que foi um flop incrível. Esse mundo não foi a lugar nenhum, tanto é que o Versus-XIII acabou virando o FFXV.
Dentro desse contexto, algumas preocupações surgem. Já que o mundo de XIII foi pensado para ser dividido daquela forma, mesmo que ruim. E cada jogo acabou sendo bem diferente um do outro, com inclusive sistemas de batalhas diversos. Portanto, como será tratado o FFVII?
Até onde vai a extensão de cada jogo? Por ora temos muitas incógnitas, mas vale lembrar que o próprio FFVII tem um mundo em si próprio também, com diversos jogos e animações. Então a história que conhecemos lá em 1997 (aproveitem para ouvir o nosso podcast) que já é contida em si mesma, vai ser retalhada ainda mais?
Concluindo, se bem utilizado, o formato pode agregar valor ao jogo que está sendo entregue, mas pode ser muito bem percebido como caça níquel nojento. Portanto, fiquemos atentos para não sermos enganados.