“Game. Game never changes.”
Saudades do Apocalipse
Foi no já longínquo ano de 2010 que havia saído a última versão da premiada série da Bethesda. Fallout: New Vegas embarcou no sucesso estrondoso que havia sido seu antecessor, Fallout 3, lançado em 2008.
Desde então se passaram 5 anos enquanto os fãs esperavam ansiosamente por uma continuação da saga. Finalmente, em novembro de 2015, os sortudos possuidores de Playstation 4, Xbox One e PC foram agraciados com Fallout 4, que se passa 10 anos após os acontecimentos de Fallout 3.
Construa uma pistola com sucata, vista uma armadura enferrujada, agarre uma Nuka Cola bem geladinha e caia dentro deste petardo conosco, explorando uma Commonwealth devastada pela guerra nuclear!
“E ser você der sorte ainda pode arranjar um cachorrinho de estimação”
Começando pela cereja do bolo nuclear
Como sempre, o game da Bethesda se pauta no primor do roteiro, tanto da missão principal quanto das secundárias.
A história começa no em outubro de 2077, com os Estados Unidos na iminência de sofrer um ataque nuclear chinês. Logo após montar seu personagem – masculino ou feminino – em uma casa digna dos anos 50, você descobre que o ataque deixou de ser uma mera suspeita e já é uma cruel realidade.
Agarrando sua esposa (ou marido) pela mão e colocando seu filho no colo, vocês correm desesperadamente para um bunker chamado Vault 111, onde você descobre que será congelado até o final da guerra. Obviamente, como seguir o script não é algo comum em tramas deste tipo, você é descongelado apenas para ver sua esposa ser assassinada e seu filho ser raptado por dois desconhecidos.
Finalmente, após sair de seu martírio, você deve partir atrás de vingança pela morte de sua amada e descobrir o paradeiro do seu filho. A tarefa que já seria complicada e se torna ainda mais hercúlea devido a um pequeno e simples detalhe: o ano agora é 2287, os Estados Unidos foram devastados pela guerra e o território americano está infestado de ghouls, super mutantes, e uma frágil sociedade que tenta sobreviver em meio ao apocalíptico caos nuclear.
“Fique tranquilo. Quando o bicho pegar, basta entrar na sua armadura e ligar a metralhadora giratória”
A guerra nunca muda. E Fallout também não.
Já começo salientando que discordo parcialmente das primeiras impressões de Antônio Lutfi, publicadas aqui mesmo no gamer como a gente.
Os fãs da série sabem de cor o mote da saga: “Guerra. A guerra não muda nunca”. Penso que a Bethesda parece ter seu próprio lema oculto, um tanto quanto similar. Eu diria que é algo como “Game. O game não muda nunca”.
Antes mesmo do lançamento já sabíamos tudo que existiria no jogo: um mundo aberto fantástico com milhões de missões instigantes, uma narrativa envolvente com pitadas de humor ácido e violência crua, uma gigantesca árvore de customização de personagem com fortes influências de RPG, a opção de mudar entre um combate de primeira pessoa (que não possui a fluidez de um FPS) e um combate em terceira pessoa (que mais parece um jogo de PS2), personagens construídos com gráficos de geração passada e bugs avassaladores.
Ainda que os elementos antigos (como a radiação e as habilidades) tenham sido redesenhados, simplificados e melhorados conforme mencionou o Antônio em seu artigo mencionado acima, a essência do jogo é a mesma.
“Alguns personagens parecem de plástico, mas nada que vá impactar no seu gameplay”
Inevitáveis comparações e os novos elementos
O fato de existirem jogos anteriores lançados pela mesma produtora, contendo a mesma estrutura e ambientados no mesmo universo obviamente levam os fãs a comparar as experiências. Comigo não foi diferente e por muitas vezes me vi comparando alguns elementos do Fallout 4 com os jogos anteriores.
Chamem-me de preciosista, mas não há missão secundária em Fallout 4 que se compare, por exemplo, com a missão secundária de Megaton de Fallout 3, onde logo no início do jogo cabia ao player a decisão de ativar ou desativar uma bomba nuclear no centro da cidade. Essa decisão te acompanharia até o final da história, e mesmo não afetando a missão principal, influenciava em todo o ambiente ao seu redor ao longo de toda sua jornada. Grande parte das sidequests me pareceram mais vazias do que as apresentadas anteriormente.
Os personagens secundários também me pareceram mais memoráveis nos jogos anteriores. Three Dog, o DJ de Fallout 3, dá um banho de personalidade em Travis Miles, o DJ de Fallout 4, ainda que as músicas que ambos toquem sejam rigorosamente as mesmas.
Por outro lado, muitos outros elementos se sobressaem na nova versão da franquia. A missão principal de Fallout 4 é muito mais engajadora do que a dos seus precursores. As facções de personagens têm uma interação muito maior com o universo e suas missões influenciam em como seu personagem é visto pelos demais habitantes da Commonwealth de uma maneira mais relevante do que antes.
Os produtores da Bethdesda também aproveitaram esta nova versão da franquia para incluir settlements, que podem ser vistos como pequenos conjuntos habitacionais dentro da comunidade virtual do jogo. Caso o player deseje, pode passar literalmente dias construindo e evoluindo seus “assentamentos”, convocando NPC’s, construindo casas e criando um ambiente autossuficiente com agricultura, eletricidade e defesas contra invasores.
“Obviamente, alguns gamers foram além e resolveram construir um AT-AT”
Quando o mais do mesmo satisfaz
Fallout 4 infelizmente não dá um passo à frente quando comparado a seus antecessores. Mas ainda que o game não apresente um avanço palpável, isso não significa que o jogo é ruim – pelo contrário! Tudo funciona tão bem como funcionava nas séries anteriores, o que faz de Fallout 4 um jogo imprescindível para a coleção de qualquer gamer como a gente.
O humor está lá, a violência está lá, a narrativa estupenda está lá. A Bethesda continua sendo ponto de referência em jogos de mundo aberto e de sabe instigar o player a desbravar cada vez mais o universo apresentado. O que mais poderíamos querer?
Ainda que eu esperasse por algo novo e por uma revolução da franquia, é perfeitamente compreensível que os desenvolvedores apostem na fórmula que sempre fez – e digo até que sempre fará – muito sucesso. Como dizem os boleiros, em time que está ganhando não se mexe.
Nota: ( 3,5 de 5 )