Resenha: Fallout 4

fallout 4 capa

“Game. Game never changes.”


Saudades do Apocalipse

Foi no já longínquo ano de 2010 que havia saído a última versão da premiada série da Bethesda. Fallout: New Vegas embarcou no sucesso estrondoso que havia sido seu antecessor, Fallout 3, lançado em 2008.

Desde então se passaram 5 anos enquanto os fãs esperavam ansiosamente por uma continuação da saga.  Finalmente, em novembro de 2015, os sortudos possuidores de Playstation 4, Xbox One e PC foram agraciados com Fallout 4, que se passa 10 anos após os acontecimentos de Fallout 3.

Construa uma pistola com sucata, vista uma armadura enferrujada, agarre uma Nuka Cola bem geladinha e caia dentro deste petardo conosco, explorando uma Commonwealth devastada pela guerra nuclear!

fallout 4 1“E ser você der sorte ainda pode arranjar um cachorrinho de estimação”

Começando pela cereja do bolo nuclear

Como sempre, o game da Bethesda se pauta no primor do roteiro, tanto da missão principal quanto das secundárias.

A história começa no em outubro de 2077, com os Estados Unidos na iminência de sofrer um ataque nuclear chinês. Logo após montar seu personagem – masculino ou feminino – em uma casa digna dos anos 50, você descobre que o ataque deixou de ser uma mera suspeita e já é uma cruel realidade.

Agarrando sua esposa (ou marido) pela mão e colocando seu filho no colo, vocês correm desesperadamente para um bunker chamado Vault 111, onde você descobre que será congelado até o final da guerra. Obviamente, como seguir o script não é algo comum em tramas deste tipo, você é descongelado apenas para ver sua esposa ser assassinada e seu filho ser raptado por dois desconhecidos.

Finalmente, após sair de seu martírio, você deve partir atrás de vingança pela morte de sua amada e descobrir o paradeiro do seu filho. A tarefa que já seria complicada e se torna ainda mais hercúlea devido a um pequeno e simples detalhe: o ano agora é 2287, os Estados Unidos foram devastados pela guerra e o território americano está infestado de ghouls, super mutantes, e uma frágil sociedade que tenta sobreviver em meio ao apocalíptico caos nuclear.

fallout 4 2“Fique tranquilo. Quando o bicho pegar, basta entrar na sua armadura e ligar a metralhadora giratória”

 A guerra nunca muda. E Fallout também não.

Já começo salientando que discordo parcialmente das primeiras impressões de Antônio Lutfi, publicadas aqui mesmo no gamer como a gente.

Os fãs da série sabem de cor o mote da saga: “Guerra. A guerra não muda nunca”. Penso que a  Bethesda parece ter seu próprio lema oculto, um tanto quanto similar. Eu diria que é algo como “Game. O game não muda nunca”.

Antes mesmo do lançamento já sabíamos tudo que existiria no jogo: um mundo aberto fantástico com milhões de missões instigantes, uma narrativa envolvente com pitadas de humor ácido e violência crua, uma gigantesca árvore de customização de personagem com fortes influências de RPG, a opção de mudar entre um combate de primeira pessoa (que não possui a fluidez de um FPS) e um combate em terceira pessoa (que mais parece um jogo de PS2), personagens construídos com gráficos de geração passada e bugs avassaladores.

Ainda que os elementos antigos (como a radiação e as habilidades) tenham sido redesenhados, simplificados e melhorados conforme mencionou o Antônio em seu artigo mencionado acima, a essência do jogo é a mesma.

fallout 4 3“Alguns personagens parecem de plástico, mas nada que vá impactar no seu gameplay”

 Inevitáveis comparações e os novos elementos

O fato de existirem jogos anteriores lançados pela mesma produtora, contendo a mesma estrutura e ambientados no mesmo universo obviamente levam os fãs a comparar as experiências. Comigo não foi diferente e por muitas vezes me vi comparando alguns elementos do Fallout 4 com os jogos anteriores.

Chamem-me de preciosista, mas não há missão secundária em Fallout 4 que se compare, por exemplo, com a missão secundária de Megaton de Fallout 3, onde logo no início do jogo cabia ao player a decisão de ativar ou desativar uma bomba nuclear no centro da cidade. Essa decisão te acompanharia até o final da história, e mesmo não afetando a missão principal, influenciava em todo o ambiente ao seu redor ao longo de toda sua jornada. Grande parte das sidequests me pareceram mais vazias do que as apresentadas anteriormente.

Os personagens secundários também me pareceram mais memoráveis nos jogos anteriores. Three Dog, o DJ de Fallout 3, dá um banho de personalidade em Travis Miles, o DJ de Fallout 4, ainda que as músicas que ambos toquem sejam rigorosamente as mesmas.

Por outro lado, muitos outros elementos se sobressaem na nova versão da franquia. A missão principal de Fallout 4 é muito mais engajadora do que a dos seus precursores. As facções de personagens têm uma interação muito maior com o universo e suas missões influenciam em como seu personagem é visto pelos demais habitantes da Commonwealth de uma maneira mais relevante do que antes.

Os produtores da Bethdesda também aproveitaram esta nova versão da franquia para incluir settlements, que podem ser vistos como pequenos conjuntos habitacionais dentro da comunidade virtual do jogo. Caso o player deseje, pode passar literalmente dias construindo e evoluindo seus “assentamentos”, convocando NPC’s, construindo casas e criando um ambiente autossuficiente com agricultura, eletricidade e defesas contra invasores.

fallout 4 4“Obviamente, alguns gamers foram além e resolveram construir um AT-AT”

 Quando o mais do mesmo satisfaz

Fallout 4 infelizmente não dá um passo à frente quando comparado a seus antecessores. Mas ainda que o game não apresente um avanço palpável, isso não significa que o jogo é ruim – pelo contrário! Tudo funciona tão bem como funcionava nas séries anteriores, o que faz de Fallout 4 um jogo imprescindível para a coleção de qualquer gamer como a gente.

O humor está lá, a violência está lá, a narrativa estupenda está lá. A Bethesda continua sendo ponto de referência em jogos de mundo aberto e de sabe instigar o player a desbravar cada vez mais o universo apresentado. O que mais poderíamos querer?

Ainda que eu esperasse por algo novo e por uma revolução da franquia, é perfeitamente compreensível que os desenvolvedores apostem na fórmula que sempre fez – e digo até que sempre fará – muito sucesso. Como dizem os boleiros, em time que está ganhando não se mexe.

Nota:   Fallout 4 nota ( 3,5 de 5 )

 

Resenha: The Division

 the division logo

Tiro, Porrada e Bomba – Em grupo!


 Dividindo os Fanboys

Mal havia sido anunciado em 2013, The Division já começou causando um rebuliço na indústria dos games. Afinal, no mesmo ano da divulgação do game da Ubisoft todos nós havíamos sorvido as delícias de um shooter em terceira pessoa em um magnífico mundo virtual infectado por um vírus sem cura – me refiro obviamente ao Last of Us, petardo criado pela Naughty Dog e dissecado pelo time do Gamer como a Gente no Podcast #12. As comparações eram inevitáveis.

Depois de quase 3 longos anos de espera, finalmente em 2016 o véu da ignorância foi retirado e conseguimos cair dentro desta nova aventura. Lançado para PS4, XOne e PC, The Division finalmente mostrou a cara. As comparações eram justas? Nem tanto. O jogo não é melhor nem pior, é apenas diferente: mecânicas parecidas, universos similares, objetivos completamente opostos.

O que não quer dizer que seja ruim, é claro.

the division 10“Afinal, rola até um churrasquinho no meio das ruas de Nova York”

 Uma Nova York devastada por um vírus sem cura

O enredo do jogo é simples e se passa em uma Nova York sitiada. A cidade se encontra devastada por um misterioso vírus e isolada do mundo, já não contando com serviços básicos ou acesso a água e comida. A última esperança da metrópole é a agência Division, uma unidade secreta de sleeper agents que são acionados quando o mundo mais precisa. Você, obviamente, é um deles.

Apesar de já batida e recontada em diversos tipos de mídia, a história é interessante. Entretanto, ao contrário do que se espera, ela não prende o jogador como deveria. Não espere uma narrativa elaborada e envolvente, pois o foco não esse. O jogo é dividido em uma série de missões em um mapa de mundo aberto e isso acaba por cortar a fluidez do jogo, tornando tudo mais mecânico.

Para tentar contrapor este ponto, os desenvolvedores colocaram uma série de itens colecionáveis espalhados pelo game – desde celulares até drones – que tentam melhorar a experiência imersiva do player dando mais consistência ao universo à sua volta. O esforço é louvável, porém em vão. As missões passam rapidamente à medida que o gamer avança, e poucas vezes você se questiona porque está matando todos aqueles incontáveis inimigos em sucessão.

the division 3“Ela apostou um olho que a história era boa. Deu no que deu.”

 Pôr do Sol Urbano

Uma coisa, entretanto, não se pode negar: a ambição do detalhamento gráfico demonstrado pelos desenvolvedores. A Nova York apresentada parece ter vida. Tudo que é apresentado no game, desde as mudanças climáticas até o interior dos prédios, é de um preciosismo ímpar. Provavelmente um dos jogos mais belos lançados nesta geração (até o momento, é claro).

Como se não fosse suficiente, a “Grande Maçã” é retratada com precisão quase milimétrica. É possível visitar lugares que existem de verdade, como Times Square e Madison Square Garden. Funciona praticamente como um city tour para quem não conhece a cidade. Por diversos momentos dei uma pausa no tiroteio simplesmente para observar o cenário e a interação do personagem como o mesmo. Ponto forte do game da Ubisoft.

the division 2“Realidade ou Videogame?”

 PVE e os Amigos

Para quem ainda não viu nada do jogo e está completamente cru, a informação primordial é que o game funciona como um MMO (Massive Multiplayer Online). Por mais que esse tipo de jogo não esteja completamente difundido nos para os jogadores de console, a modalidade já é bem conhecida dos players de PC.

O efeito prático, na verdade, é simples: você precisa ter internet para jogar, pois estará sempre online e interagindo com outros jogadores. Por mais que você consiga tranquilamente zerar o jogo sozinho, a grande diversão é jogar cooperativamente com mais 3 amigos em grupo, sejam desconhecidos ou gamebrothers de longa data.

As missões principais da história não demoram muito e logo após isso o game se torna uma busca eterna para se conseguir itens raros – desde armas até equipamentos – para melhorar os atributos e skills do seu personagem. Essa estrutura já pode ser vista em alguns jogos disponíveis atualmente para consoles, como Destiny, Borderlands e Diablo.

E por mais que a jogabilidade do game não mude praticamente nada, estando você no nível 5 ou no nível 30, é o tipo de jogo que vicia e que faz você refazer a mesma missão várias vezes na esperança de descobrir uma nova pistola ou um novo colete à prova de balas.

the division 4“Convenhamos, comandar em grupo é muito melhor que jogar sozinho”

 PVP e a Dark Zone

Ainda que a maior parte do jogo seja PVE (mais conhecido como “Player Versus Environement”, ou seja, você contra o computador), os gamers mais audaciosos vão querer entrar na Dark Zone. No jogo, a Dark Zone é a parte de Nova York que foi abandonada e cercada devido à contaminação excessiva do vírus. Lá não existe lei e a anarquia reina. E é por lá que rolam as partidas de PVP (Player Versus Player).

Além de encontrar outros gamers para enfrentá-los, vale salientar que também é possível  encontrar inimigos controlados pelo computador. A grande vantagem é que eles são muito mais poderosos que os inimigos normais e, após aniquilados, deixam itens mais raros/poderosos que os de costume.

Para melhorar ainda mais a dinâmica, todos os itens coletados na Dark Zone estão contaminados pelo vírus. Ou seja, o jogador não pode simplesmente equipar o novo equipamento adquirido após matar um inimigo – ele deve extrair o item de helicóptero. Este processo leva tempo, e outros jogadores menos amistosos podem ir atrás de você para tentar roubar seus ganhos antes que você consiga extraí-los para fora da Dark Zone em segurança.

the division 5“A tensão te aguarda na Dark Zone”

 O acerto de contas

Ainda que o jogo ainda tenha alguns bugs no servidor e tenhamos visto cenas lamentáveis na primeira semana de lançamento (tipo essa), penso que foi apenas falta de preparo da Ubisoft por não saber mensurar o sucesso que seria o próprio jogo que criou. Tenho confiança que esses pequenos gargalos serão superados com o tempo.

Aviso também que o gamer de console vai ter que se acostumar com alguns “poréns” que não são usuais para esse tipo de plataforma, apesar de comuns no computador. Por exemplo: quando o servidor está cheio, existe fila para entrar no jogo e você tem que esperar, mesmo que vá jogar sozinho.

No entanto, apesar dos pesares, The Division é um jogo que vale a pena jogar simplesmente pelo fator social. Mesmo não tendo um enredo que não chega nem perto do The Last of Us mencionado no início da resenha, jogar com os amigos e enfrentar os perigos de uma Nova York sitiada em grupo é realmente muito legal. A tensão instaurada quando se joga na Dark Zone é preciosa e diria que única em jogos de videogame. A Ubisoft acerta em cheio onde muitas outras desenvolvedoras falharam.

Nota:   the division nota ( 3,5 de 5 )

Resenha: Grim Fandango Remastered

grim fandango logo

Uma grande aventura na Terra dos Mortos


Uma jornada ao passado

Nascido nos anos 80, tive o prazer de experimentar uma série de games de aventura point&click nos anos 90. Fui parte de uma gangue de motoqueiros em Full Throttle, viajei para o espaço em The Dig, cacei tesouros em Monkey Island e muito mais. A quantidade de jogos que saíam neste estilo na dita década era impressionante – e a qualidade da grande maioria não deixava a desejar.

Criado por Tim Schafer e deselvolvido pela Lucasarts em 1998, Grim Fandango foi um hit no seu ano de lançamento. Infelizmente, como à época a minha pré-histórica placa de vídeo não era capaz de reproduzir os gráficos fantásticos desta sensacional obra de arte, minha vontade de mergulhar a fundo no jogo foi reduzida a ocasionais jogatinas na casa dos amiguinhos com mais poderio financeiro.

Entretanto, eis que em 2015 o universo conspirou para que o jogo fosse relançado remasterizado para as PC, PS4 e PSVita. Como um gamer que espera sempre alcança, caí dentro desta aventura com pitadas fortes de nostalgia.

grim fandango 1“Fantasia de Halloween? Negativo”

 Um emprego nada comum

Em Grim Fandango você controla Manny Calavera, um agente de viagens. A diferença de Manny para um agente de viagens normal é muito simples: Manny já morreu. Vestindo um capuz preto e carregando uma foice, Manny é responsável por providenciar o melhor pacote de viagens possível para que as almas penadas atravessem a Terra dos Mortos.

Com profundas raízes na arte asteca e com frequentes referencias visuais ao México e ao feriado do Dia de Los Muertos, Grim Fandango se desenrola facilmente aos olhos dos gamers que procuram uma boa história. O que parece simples aos poucos se torna complexo quando você tem que ajudar Manny a desvendar uma intrincada teia de corrupção do mundo dos mortos e salvar a bela – e também já morta – Mercedes Colomar.

O humor cru de Tim Schafer é rapidamente reconhecido no roteiro do game. Todos os personagens são muito bem elaborados e com frequência você irá perceber que está com um sorriso no rosto enquanto seleciona as diversas opções de diálogo. Mas não se engane: Grim Fandango é um jogo difícil. Os puzzles não são triviais assim como muitos jogos contemporâneos a ele.

grim fandango 3“Manny batendo um papo com Glottis, provavelmente o melhor personagem do jogo”

Sabe aquele sorriso estampado no seu rosto? Rapidinho ele vai embora.

Devo admitir que minha a expectativa ao jogar a versão remasterizada de Grim Fandango estava lá no alto. Talvez por isso tenha me decepcionado tanto.

Ao contrário do trabalho fantástico de remasterização realizado pela Bluepoint na trilogia de Uncharted, a remasterização da Double Fine me pareceu quase nula. A única mudança relevante é a inclusão de um mais moderno esquema no controle do personagem, em substituição ao clássico “controle tanque-de-guerra” (este ainda disponível nas opções de jogo para os saudosistas de plantão).

De resto, nada. Os gráficos estão rigorosamente iguais ao da versão original de 1998, apenas um retoque aqui ou outro acolá. Pior ainda: por vezes eu apertava o botão [SELECT] do PSVita para jogar na versão original, pois a remasterização estava muito escura. Ou seja, se você compra a versão remasterizada mas opta por jogar a original, é porque algo está errado…

Ainda sobre a parte gráfica, a tela do jogo ainda é na antiga razão 4:3, obrigando o player a abandonar o moderno widescreen para jogar confinado num pequeno quadrado. Você tem a opção de ajustar a imagem, mas ele apenas “estica” a tela original, deixando os personagens deformados. Lamentável.

Para piorar ainda mais, o cross-save entre o PSVita e o PS4 não funciona bem e gera mais dor de cabeça do que a praticidade divulgada. No caso do PSVita a situação ficou ainda mais complicada: o progresso do jogo não salva no sistema, mas sim de forma automática na nuvem da PSN, o que me impedia de acessá-lo caso eu não estivesse conectado em uma rede Wi-Fi.

Outro ponto fraco é a ausência de um “auto-save” – problema esse que fica ainda pior devido aos incontáveis bugs e crashes da versão remasterizada. Diversas vezes o jogo desligou sozinho, perdendo todo meu progresso e me obrigando a recomeçar do último save – que, obviamente, tinha ocorrido no mínimo uma hora antes.

grim fandango 2“Versão Original x Versão Remasterizada: Tão igual que parece jogo dos 7 erros”

Vivo ou Morto?

A conclusão é bastante simples. Se eu estivesse resenhando o jogo original em 1998, Grim Fandango provavelmente levaria uma nota máxima – ou talvez muito próxima desta. A história é espetacular e os personagens são memoráveis. Bom humor não envelhece. Além disso, o estilo de jogo quase esquecido é um prato cheio para gamers saudosistas como eu, mesmo com o ritmo sendo mais lento do que estamos acostumados nos games de hoje em dia.

Entretanto, fui buscar na nova versão de Grim Fandango um “algo mais” que não consegui encontrar. Muito pelo contrário, a remasterização é tão fraca e cheia de bugs que conseguiram transformar o bom de 1998 no ruim de 2015. O que era prazeroso antes no passado deixa hoje um gosto amargo na garganta.

Por vezes enquanto jogava no PSVita fiquei pensando que a Double Fine era tão saudosista quanto eu – porém eles foram mais além: ao invés de remasterizar somente o jogo, remasterizaram também o TILT dos jogos dos anos 90.

Caso você queira acompanhar as fantásticas aventuras de Manny Calavera, fica a dica: melhor voltar ao jogo original e fugir desta nova versão. Caso contrário, fique preparado para dar um level up na sua paciência.

Nota: grimfandangonota (2,0/5,0)

Resenha: Star Wars Battlefront

star wars 0

Jogue. Ou não jogue. Tentativa não há.


 Há muito tempo atrás, numa galáxia muito muito distante…

Já se passaram 10 longos anos desde a última vez os fãs de Star Wars viram um filme da saga na telona dos cinemas. Talvez por mera coincidência, o ano de 2005 marcou não só o lançamento do Episódio III: A Vingança dos Sith, como também foi o ano do lançamento do último jogo da série Star Wars Battlefront. E, já que em 2015 vamos poder ver de novo Luke, Han e Leia em todo seu esplendor na tela dos cinemas no Episódio VII: O Despertar da Força, porque não aproveitar também para cair dentro do novíssimo e repaginado Battefront?

Lançado este ano para PC, Xbox One e PS4, publicado pela Eletronic Arts e produzido pela DICE – responsável pela mundialmente famosa série de jogos de tiro Battlefield – Star Wars Battlefront traz uma vez mais para dentro do seu videogame o maravilhoso universo Star Wars. Caberá a você se alistar ao exército imperial ou ao lixo rebelde numa guerra que se estenderá certamente ao longo dos anos vindouros – ou quem sabe talvez só ao longo das suas madrugadas insones.

star wars 4“Nada melhor para despertar do que um pouco de velocidade”

Uma obra de arte em suas mãos

Após jogar por mais de 40 horas, não é maluquice dizer que em cada partida me surpreendo com o magnífico trabalho da EA/DICE de transportar todo um universo que tanto amamos para dentro de um disco de bluray.

Falando friamente, já estamos acostumados a travar batalhas de longa escala na série Battlefield. Não é nada novo. Entretanto, nada se compara viver todos os intensos momentos de uma guerra nas estrelas.

A forma como a trilogia original se transmuta para o jogo e como é possível recriar momentos históricos dos filmes clássicos é algo que – arrisco dizer – nunca foi feito em videogame. O visual polido e refinado torna o ambiente tangível: você vai poder, por exemplo, cruzar o horizonte branco de Hoth ou se embrenhar na floresta de Endor, deixando de ser apenas um mero espectador para se tornar um protagonista da saga Star Wars.

O preciosismo e o carinho nos detalhes me agrada. Parece que tudo dos cinemas foi trazido para o game: desde pequenos detalhes como a pistola de Han Solo, até os gigantescos AT-AT’s. E caso não seja suficiente para você ser apenas um mero soldado, você também poderá personificar os personagens clássicos da série para destroçar seus inimigos. Afinal, quem nunca quis enforcar um rebelde usando os poderes do lado negro força?

star wars 2Eu acho a sua falta de fé perturbadora.

 A jogabilidade: Sinta a força!

Sendo um jogo majoritariamente multiplayer, a EA/DICE fizeram um ótimo trabalho em trazer uma boa gama de modos disponíveis. Além do tradicional mata-mata (chamado de Blast no jogo), uma série de outros modos estão disponíveis para os fãs.

As batalhas de larga escala podem ser jogadas nos modos Walker Assault (onde os rebeldes têm de se defender do ataque dos AT-AT’s) e Supremacy (similar ao modo Rush da série Battlefield).

O tradicional pique-bandeira é jogado no Capture The Cargo. Já Droid Run e Drop Zone são similares ao conhecido modo Conquest: porém, ao invés das bandeiras serem capturadas em pontos específicos e pré-determinados no mapa, são pequenos droides móveis ou Pods que randomicamente caem do céu que devem ser o objetivo de busca de cada time, respectivamente.

Caso você esteja em busca de uma aventura mais emocionante, pode embarcar no modo Hero Hunt, onde os níveis de tensão alcançam pontos altíssimos num mata-mata de todos-contra-um, com o “um” sendo um herói ou vilão clássico da série. Em Heroes vs Villains, dois times se digladiam para tentar aniquilar os personagens míticos do time oposto.

Como se não fosse suficiente, a batalha alcança também os céus no modo Fighter Squadron – e se você for rápido o suficiente ainda pode controlar a sucata intergaláctica Millenium Falcon ou a magnífica nave Slave I do Mercenário Bobba Fett.

Variedade é o que não falta.

star wars 1Mais um belo dia para caçar lixo rebelde.

 O lado negro do Jogo – Is it a trap?

Por mais fã que eu seja e por maior que seja minha vontade de bradar que este é o melhor jogo de todos os tempos, infelizmente existem sérios pontos a serem levantados, o mais crucial sendo a completa ausência de uma campanha single player. Embora o jogo ofereça um robusto modo survival e arenas de batalhas para um jogador, é triste reconhecer que o game não traz nada relevante em termos de história – nem mesmo aqueles modos fajutos para um jogador já conhecidos das séries Call of Duty e Battlefield.

Além disso o game sofre com uma péssima estrutura de matchmaking. Além de não poder montar um time (o jogo só permite que você crie duplas), não existe nenhuma opção para selecionar o servidor no qual você deseja jogar.

Outro ponto pecaminoso é a customização de armas, que inexiste. Elas são poucas e eventualmente você ficará saturado de todas. Como se não bastasse, o game recompensa muito pouco o player por subir de nível – com exceção de um skin de shadow trooper aqui e outro acolá. Decepcionante.

star wars 3“Infelizmente, por vezes você vai achar que está faltando algo no game”

O Veredito Final. Vale a pena?

Como diria o sábio Qui Gon Jin, “o seu foco determina a sua realidade”.

Para os que não suportam Star Wars – e merecedores de uma morte lenta devido a este fato, sugiro jogar antes de comprar. Os jogos de primeira pessoa que competem com Star Wars Battlefront são mais robustos e dão mais opções ao jogador.

Para os fãs de Star Wars o jogo é indispensável – e mesmo que você não seja um fã de jogos de tiro, vai perder horas da sua vida grudadas na televisão simplesmente pelo invólucro magnífico em que esta obra prima se apresenta.

No final das contas, se você ama Star Wars, seu coração passará por cima de todos os problemas existentes e sem dúvida alguma você vai amar Star Wars Battlefront. A força é forte neste jogo. Afinal, quem em sã consciência pode resistir à tentação de enlaçar um AT-AT usando o cabo de um Speedster no último segundo de uma partida?

Nota: star wars nota (4,0 de 5,0)

Resenha: Metal Gear Solid V: Phantom Pain

mgs logo

Kept you waiting, huh?


 

A Saga Metal Gear

Se você é gamer como a gente e não esteve em uma ilha deserta nos últimos 20 anos, você conhece a saga Metal Gear. Criada por Hideo Kojima – também chamado carinhosamente de Deus por vários gamers, ou pejorativamente de Trolljima por outros poucos – e publicada pela Konami, a saga teve início no longínquo ano de 1987 com o jogo de mesmo nome, lançado para o MSX2.

O sucesso estrondoso fez com que a Konami demandasse diversos novos capítulos da saga, todos com uma complexa e interligada história e lançados ao longo desses anos que se passaram. Finalmente, em 2015, fomos agraciados com o último jogo da série, Metal Gear Solid V: Phantom Pain, que fecha um ciclo vitorioso e dá um magnífico ponto final à história de Big Boss e Solid Snake.

Ou será que não?

mgs diamond dogs“Os Diamond Dogs. Quem diria que o Big Boss seria fã do David Bowie?”

 O Enredo

Situado na intrincada linha temporal da série entre o Metal Gear Peace Walker e o Metal Gear original, o jogo começa relembrando os eventos mostrados no prólogo Ground Zeroes com a destruição do exército privado do Big Boss, os Militares Sem Fronteiras (MSF).

Big Boss, agora dublado por Kiefer Sutherland (o Jack Bauer da série de TV 24 horas), acorda em um hospital e é informado carinhosamente pelo médico que esteve em coma por nove anos, que perdeu um braço e que possui um chifre na testa. Adotando o codinome de Venon Snake, o herói de poucas palavras deve liderar a reconstrução do seu exército, agora nomeado Diamond Dogs, para ir em busca de duas antagônicas missões: vingança contra seus inimigos e uma telletubiana paz mundial.

A parte interessante é que Big Boss não está sozinho. Ao longo da jornada, Venon Snake também vai montando seu grupo de super-amigos: o espião Revolver Shalashaska Ocelot, o mercenário Kaz Miller, o cientista Huey Emmerich, a sniper vira-casaca Quiet, o velho navajo Code Talker e o misterioso garoto Eli. Ao contrário do desenho da Hanna-Barbera, todos os personagens são muito bem trabalhados durante o jogo e a personalidade de cada um é muito bem definida, dando peso e substância para a história (e de lambuja você ainda ganha um cachorro, um cavalo e um robô de estimação!).

O principal antagonista do jogo, o caricato Skull Face, também parece ser uma homenagem às clássicas histórias em quadrinhos: ele tem a fisionomia do Caveira Vermelha e um plano diabólico digno dos vilões do seriado do Batman dos anos 60.

mgs skull face“A primeira regra do Clube dos Vilões Malucos é: Você não fala sobre o Clube dos Vilões Malucos.”

 O Gameplay

É neste ponto que Metal Gear V: Phantom Pain realmente brilha. Além de ser provavelmente o jogo com o melhor gameplay de stealth já feito em qualquer plataforma de videogame, as diversas formas de se enfrentar cada missão ou de se infiltrar em cada fortaleza inimiga proporciona incontáveis chances replay do game.

Quer invadir uma fortaleza na calada da noite, estrangulando guardas na surdina? Tranquilo.
Quer eliminar todos os inimigos de longe usando um rifle de franco atirador com mira infravermelha? Também rola.
Quer solicitar apoio aéreo de helicóptero para confundir os seus perseguidores? Moleza.
Ou talvez você prefira bancar o Rambo e passar por cima de todos com um tanque de guerra? Pode também.

Os mapas do novo Metal Gear são maravilhosos e também influenciam bastante no gameplay. As tempestades de areia do Afeganistão podem servir para ocultar sua fuga da base inimiga em um momento de desespero e as frequentes chuvas do território africano podem abafar seus passos enquanto você tenta driblar seus oponentes.

Outro papel importante no gameplay é o desempenhado pelos seus aliados. O seu fiel cachorro, D-Dog, consegue farejar todos os seus inimigos. A sniper Quiet providencia um essencial suporte de longa distância. O robô D-Walker é provavelmente a melhor arma quando você deseja enfrentar inimigos superpoderosos. E o cavalo D-Horse, além de ser provavelmente o melhor meio de transporte do jogo, pode participar efetivamente das suas armadilhas de uma maneira no mínimo cômica.

As opções são infinitas Metal Gear V: Phantom Pain. E o melhor de tudo é que se você quiser esquecer tudo que eu mencionei acima e usar somente suas inseparáveis pistola de tranquilizante e caixa de papelão, você também pode. Ponto para Kojima e para Konami, que em uma tacada de mestre conseguem agradar a gregos e troianos.

Ah, e não posso esquecer de um dos pontos principais! O jogo corre perfeitamente sem os costumeiros bugs dos jogos de mundo aberto – Witcher 3 e Fallout 4, estou olhando para vocês!

mgs quiet“O mestre mandou você matar todo mundo”

 O jogo perfeito?

Infelizmente não. Gamer como a gente sempre consegue achar uma crítica aqui ou ali, não é?

Algumas vezes os inimigos parecem cegos e não te veem mesmo que você esteja a 5 metros de distância. O “reflex mode”, que coloca todos os inimigos em câmera lenta, também foge do gameplay implementado nos jogos anteriores da série e acaba muitas vezes por quebrar o clima de tensão ao invadir uma base inimiga – ainda bem que ele pode ser desabilitado nas opções do jogo.

Entretanto não seriam pontos como esses acima que manchariam uma obra prima…

Creio que o game possui dois principais problemas que literalmente o impedem de ser não só o melhor Metal Gear da história como também o melhor game já feito até então: a forma como o enredo é contado e a forma como ele é estruturado.

O problema com o enredo: Após inúmeras críticas (infundadas, na minha modesta opinião) com relação ao Metal Gear Solid 4, Kojima modificou a forma de contar a história de sua saga, abdicando das cenas em computação gráfica e inserindo uma série de fitas cassetes para serem escutadas. Grande parte da história, background dos personagens e segredos do jogo só serão descobertos ao ouvir as fitas. Com isso, o ritmo de jogo acaba sendo quebrado quando entre uma missão e outra você literalmente pára tudo para ligar seu walkman. Senta que lá vem a história.

O problema com a estrutura: O jogo, assim como Metal Gear Peace Walker, é estruturado em missões. As missões são divididas em dois tipos: as missões relacionadas à história principal (as chamadas main quests) e as missões que andam em paralelo a estas (conhecidas como side ops) Enquanto isso funciona perfeitamente no Metal Gear Peace Walker – jogo originário do PSP, console portátil da Sony – em Phantom Pain o gameplay parece muitas vezes arrastado e a história perde uma fluidez necessária para que o jogo possa “engatar” de verdade. Por diversas vezes você se vê querendo ir atrás dos mistérios da história principal, mas antes disso tem que passar por missões que parecem não ter nenhuma relação direta com o enredo. Para quem é fã de animes, muitas vezes você se sente jogando um filler.

Além disso, admito que senti falta de uma missão final que realmente faça uma ligação direta entre Phantom Pain e o Metal Gear original. Para quem não tiver medo de spoilers ou já tiver terminado o jogo, deem uma olhada na missão 51 retirada do jogo.

mgs eli“Quem sabe veremos o final da sua história em um DLC, amiguinho…”

O fim de uma era

Independentemente das críticas, esse é um Metal Gear para entrar na história.

Afinal este é o último Metal Gear feito pelo seu criador, Hideo Kojima. O Metal Gear que encerra um ciclo de 28 anos de história do mundo dos games – uma história sem milking e enrolações! O Metal Gear que colocou na saga um gameplay de profundidade única, unindo os games stealth e os games de mundo aberto de uma forma nunca vista anteriormente. O Metal Gear com mais conteúdo jogável do que qualquer outro jogo da saga. O Metal Gear que apesar de possuir alguns problemas em sua estrutura de enredo, consegue entregar uma história consistente e com um plot twist surpreendente no final.

Se você ainda não jogou, está cometendo um sacrilégio.

Você não vai deixar o Snake esperando, vai?

Nota: mgs nota ( 4 de 5 )