A história dos outros
Ah, os anos 90. Houve quem pensasse que o futuro dos jogos estava na “realidade” e por isso precisávamos de jogos que fossem realmente filmes. Com o advento do “kit multimídia”, onde fomos apresentados ao maravilhoso mundo do CD, o mercado foi inundado de jogos filmados. O difícil era a interação com o próprio jogo. O que poderia ser jogável de fato? Porque o vídeo ia se desenrolando sem o input do jogador, imaginem quantas cenas deveriam ser gravadas para registrar as suas possíveis ações!
Um ponto positivo é que esses “jogos” enveredaram por searas nunca antes vistas nos games até então: thrillers, erotismo, bizarro, terror, detetives, até jogo de ritmo dos Power Rangers (aqui) e episódios de Star Wars (aqui). Mas infelizmente a ambição era maior do que os meios disponíveis, gerando inúmeros momentos de vergonha alheia. A produção rivalizava com os “melhores” filmes B da época. Atuações pífias, cenários ridículos, todo o pacote.
A história dela
Então chega o futuro. Sam Barlow, criador de Silent Hill: Shattered Memories, resolve resgatar esse feeling dos anos 90. Não só trazendo o FMV, mas como toda a estética daquela época.
Her Story é a história de um crime contada de forma não linear, protagonizada unicamente por Viva Seifert em uma atuação impecável. E por que isso? Porque ela não interage com ninguém. Ninguém que o jogador veja ao menos. É o seguinte: o jogador tem acesso a um terminal da polícia e uma base de dados que por força do destino foi corrompida, portanto os vídeos foram todos embaralhados e desorganizados.
O seu papel é tentar organizar os vídeos dos interrogatórios onde a personagem que Viva interpreta (revelar o seu nome também é spoiler) está sendo questionada pelo desaparecimento do seu marido. Os vídeos são apenas ela falando com o seu interlocutor da polícia (ele não é mostrado, no entanto) explicando e respondendo perguntas (que você infere através da resposta).
Os vídeos em sua maioria não são muito longos, podendo ter alguns poucos segundos, chegando a 2 ou 3 minutos no máximo. Para se chegar neles, você precisa digitar no terminal palavras-chave que te levarão a um vídeo específico onde aqueles termos foram ditos. A pegadinha é que termos genéricos te levam a uma quantidade muito grande de hits, mas somente os 5 primeiros da lista é que são mostrados. E obviamente termos muito específicos te levam a becos sem saída. Basicamente, é como pesquisar no Google. É muito importante prestar atenção no que está sendo dito por ela para que você possa fazer follow up nas respostas dela. Dentro dos vídeos você também pode adicionar tags que ajudam a organizar o seu pensamento.
Este é um formato muito interessante, onde o jogador é basicamente um voyeur analisando a vida alheia. Também é muito gratificante quando se descobre alguma informação relevante, depois de inúmeras buscas infrutíferas. E como saber se você está avançando no jogo? Detalhes sutis são mostrados na tela quando você os acha e há um “programinha” (o terminal realmente simula um desktop de sistema operacional) que indica quantos vídeos você já viu.
Her Story vem altamente recomendado por ter uma história muito interessante, quiçá aberta a interpretações porque ao “final” não há um vídeo esclarecedor revelando todos os meandros. Cabe a você decidir se você está satisfeito com a sua conclusão ou não. Inclusive ela pode vir, sem ao menos ter assistido todos os vídeos de fato. Vale dizer que um conhecimento de inglês avançado é necessário para compreender e procurar pelas palavras.
É uma ótima experiência, que engrandece muito mais quando se é jogado de uma vez só. Então arrumem um tempinho e joguem! Está disponível para iOS, Mac e PC.