Uma grande aventura na Terra dos Mortos
Uma jornada ao passado
Nascido nos anos 80, tive o prazer de experimentar uma série de games de aventura point&click nos anos 90. Fui parte de uma gangue de motoqueiros em Full Throttle, viajei para o espaço em The Dig, cacei tesouros em Monkey Island e muito mais. A quantidade de jogos que saíam neste estilo na dita década era impressionante – e a qualidade da grande maioria não deixava a desejar.
Criado por Tim Schafer e deselvolvido pela Lucasarts em 1998, Grim Fandango foi um hit no seu ano de lançamento. Infelizmente, como à época a minha pré-histórica placa de vídeo não era capaz de reproduzir os gráficos fantásticos desta sensacional obra de arte, minha vontade de mergulhar a fundo no jogo foi reduzida a ocasionais jogatinas na casa dos amiguinhos com mais poderio financeiro.
Entretanto, eis que em 2015 o universo conspirou para que o jogo fosse relançado remasterizado para as PC, PS4 e PSVita. Como um gamer que espera sempre alcança, caí dentro desta aventura com pitadas fortes de nostalgia.
“Fantasia de Halloween? Negativo”
Um emprego nada comum
Em Grim Fandango você controla Manny Calavera, um agente de viagens. A diferença de Manny para um agente de viagens normal é muito simples: Manny já morreu. Vestindo um capuz preto e carregando uma foice, Manny é responsável por providenciar o melhor pacote de viagens possível para que as almas penadas atravessem a Terra dos Mortos.
Com profundas raízes na arte asteca e com frequentes referencias visuais ao México e ao feriado do Dia de Los Muertos, Grim Fandango se desenrola facilmente aos olhos dos gamers que procuram uma boa história. O que parece simples aos poucos se torna complexo quando você tem que ajudar Manny a desvendar uma intrincada teia de corrupção do mundo dos mortos e salvar a bela – e também já morta – Mercedes Colomar.
O humor cru de Tim Schafer é rapidamente reconhecido no roteiro do game. Todos os personagens são muito bem elaborados e com frequência você irá perceber que está com um sorriso no rosto enquanto seleciona as diversas opções de diálogo. Mas não se engane: Grim Fandango é um jogo difícil. Os puzzles não são triviais assim como muitos jogos contemporâneos a ele.
“Manny batendo um papo com Glottis, provavelmente o melhor personagem do jogo”
Sabe aquele sorriso estampado no seu rosto? Rapidinho ele vai embora.
Devo admitir que minha a expectativa ao jogar a versão remasterizada de Grim Fandango estava lá no alto. Talvez por isso tenha me decepcionado tanto.
Ao contrário do trabalho fantástico de remasterização realizado pela Bluepoint na trilogia de Uncharted, a remasterização da Double Fine me pareceu quase nula. A única mudança relevante é a inclusão de um mais moderno esquema no controle do personagem, em substituição ao clássico “controle tanque-de-guerra” (este ainda disponível nas opções de jogo para os saudosistas de plantão).
De resto, nada. Os gráficos estão rigorosamente iguais ao da versão original de 1998, apenas um retoque aqui ou outro acolá. Pior ainda: por vezes eu apertava o botão [SELECT] do PSVita para jogar na versão original, pois a remasterização estava muito escura. Ou seja, se você compra a versão remasterizada mas opta por jogar a original, é porque algo está errado…
Ainda sobre a parte gráfica, a tela do jogo ainda é na antiga razão 4:3, obrigando o player a abandonar o moderno widescreen para jogar confinado num pequeno quadrado. Você tem a opção de ajustar a imagem, mas ele apenas “estica” a tela original, deixando os personagens deformados. Lamentável.
Para piorar ainda mais, o cross-save entre o PSVita e o PS4 não funciona bem e gera mais dor de cabeça do que a praticidade divulgada. No caso do PSVita a situação ficou ainda mais complicada: o progresso do jogo não salva no sistema, mas sim de forma automática na nuvem da PSN, o que me impedia de acessá-lo caso eu não estivesse conectado em uma rede Wi-Fi.
Outro ponto fraco é a ausência de um “auto-save” – problema esse que fica ainda pior devido aos incontáveis bugs e crashes da versão remasterizada. Diversas vezes o jogo desligou sozinho, perdendo todo meu progresso e me obrigando a recomeçar do último save – que, obviamente, tinha ocorrido no mínimo uma hora antes.
“Versão Original x Versão Remasterizada: Tão igual que parece jogo dos 7 erros”
Vivo ou Morto?
A conclusão é bastante simples. Se eu estivesse resenhando o jogo original em 1998, Grim Fandango provavelmente levaria uma nota máxima – ou talvez muito próxima desta. A história é espetacular e os personagens são memoráveis. Bom humor não envelhece. Além disso, o estilo de jogo quase esquecido é um prato cheio para gamers saudosistas como eu, mesmo com o ritmo sendo mais lento do que estamos acostumados nos games de hoje em dia.
Entretanto, fui buscar na nova versão de Grim Fandango um “algo mais” que não consegui encontrar. Muito pelo contrário, a remasterização é tão fraca e cheia de bugs que conseguiram transformar o bom de 1998 no ruim de 2015. O que era prazeroso antes no passado deixa hoje um gosto amargo na garganta.
Por vezes enquanto jogava no PSVita fiquei pensando que a Double Fine era tão saudosista quanto eu – porém eles foram mais além: ao invés de remasterizar somente o jogo, remasterizaram também o TILT dos jogos dos anos 90.
Caso você queira acompanhar as fantásticas aventuras de Manny Calavera, fica a dica: melhor voltar ao jogo original e fugir desta nova versão. Caso contrário, fique preparado para dar um level up na sua paciência.
Nota: (2,0/5,0)
Pow desanimei… 😦
Mas entendo completamente as reclamações.
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Apesar dos problemas, o jogo original ainda é muito divertido. O palhaço no festival é sensacional!
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