Kept you waiting, huh?
A Saga Metal Gear
Se você é gamer como a gente e não esteve em uma ilha deserta nos últimos 20 anos, você conhece a saga Metal Gear. Criada por Hideo Kojima – também chamado carinhosamente de Deus por vários gamers, ou pejorativamente de Trolljima por outros poucos – e publicada pela Konami, a saga teve início no longínquo ano de 1987 com o jogo de mesmo nome, lançado para o MSX2.
O sucesso estrondoso fez com que a Konami demandasse diversos novos capítulos da saga, todos com uma complexa e interligada história e lançados ao longo desses anos que se passaram. Finalmente, em 2015, fomos agraciados com o último jogo da série, Metal Gear Solid V: Phantom Pain, que fecha um ciclo vitorioso e dá um magnífico ponto final à história de Big Boss e Solid Snake.
Ou será que não?
“Os Diamond Dogs. Quem diria que o Big Boss seria fã do David Bowie?”
O Enredo
Situado na intrincada linha temporal da série entre o Metal Gear Peace Walker e o Metal Gear original, o jogo começa relembrando os eventos mostrados no prólogo Ground Zeroes com a destruição do exército privado do Big Boss, os Militares Sem Fronteiras (MSF).
Big Boss, agora dublado por Kiefer Sutherland (o Jack Bauer da série de TV 24 horas), acorda em um hospital e é informado carinhosamente pelo médico que esteve em coma por nove anos, que perdeu um braço e que possui um chifre na testa. Adotando o codinome de Venon Snake, o herói de poucas palavras deve liderar a reconstrução do seu exército, agora nomeado Diamond Dogs, para ir em busca de duas antagônicas missões: vingança contra seus inimigos e uma telletubiana paz mundial.
A parte interessante é que Big Boss não está sozinho. Ao longo da jornada, Venon Snake também vai montando seu grupo de super-amigos: o espião Revolver Shalashaska Ocelot, o mercenário Kaz Miller, o cientista Huey Emmerich, a sniper vira-casaca Quiet, o velho navajo Code Talker e o misterioso garoto Eli. Ao contrário do desenho da Hanna-Barbera, todos os personagens são muito bem trabalhados durante o jogo e a personalidade de cada um é muito bem definida, dando peso e substância para a história (e de lambuja você ainda ganha um cachorro, um cavalo e um robô de estimação!).
O principal antagonista do jogo, o caricato Skull Face, também parece ser uma homenagem às clássicas histórias em quadrinhos: ele tem a fisionomia do Caveira Vermelha e um plano diabólico digno dos vilões do seriado do Batman dos anos 60.
“A primeira regra do Clube dos Vilões Malucos é: Você não fala sobre o Clube dos Vilões Malucos.”
O Gameplay
É neste ponto que Metal Gear V: Phantom Pain realmente brilha. Além de ser provavelmente o jogo com o melhor gameplay de stealth já feito em qualquer plataforma de videogame, as diversas formas de se enfrentar cada missão ou de se infiltrar em cada fortaleza inimiga proporciona incontáveis chances replay do game.
Quer invadir uma fortaleza na calada da noite, estrangulando guardas na surdina? Tranquilo.
Quer eliminar todos os inimigos de longe usando um rifle de franco atirador com mira infravermelha? Também rola.
Quer solicitar apoio aéreo de helicóptero para confundir os seus perseguidores? Moleza.
Ou talvez você prefira bancar o Rambo e passar por cima de todos com um tanque de guerra? Pode também.
Os mapas do novo Metal Gear são maravilhosos e também influenciam bastante no gameplay. As tempestades de areia do Afeganistão podem servir para ocultar sua fuga da base inimiga em um momento de desespero e as frequentes chuvas do território africano podem abafar seus passos enquanto você tenta driblar seus oponentes.
Outro papel importante no gameplay é o desempenhado pelos seus aliados. O seu fiel cachorro, D-Dog, consegue farejar todos os seus inimigos. A sniper Quiet providencia um essencial suporte de longa distância. O robô D-Walker é provavelmente a melhor arma quando você deseja enfrentar inimigos superpoderosos. E o cavalo D-Horse, além de ser provavelmente o melhor meio de transporte do jogo, pode participar efetivamente das suas armadilhas de uma maneira no mínimo cômica.
As opções são infinitas Metal Gear V: Phantom Pain. E o melhor de tudo é que se você quiser esquecer tudo que eu mencionei acima e usar somente suas inseparáveis pistola de tranquilizante e caixa de papelão, você também pode. Ponto para Kojima e para Konami, que em uma tacada de mestre conseguem agradar a gregos e troianos.
Ah, e não posso esquecer de um dos pontos principais! O jogo corre perfeitamente sem os costumeiros bugs dos jogos de mundo aberto – Witcher 3 e Fallout 4, estou olhando para vocês!
“O mestre mandou você matar todo mundo”
O jogo perfeito?
Infelizmente não. Gamer como a gente sempre consegue achar uma crítica aqui ou ali, não é?
Algumas vezes os inimigos parecem cegos e não te veem mesmo que você esteja a 5 metros de distância. O “reflex mode”, que coloca todos os inimigos em câmera lenta, também foge do gameplay implementado nos jogos anteriores da série e acaba muitas vezes por quebrar o clima de tensão ao invadir uma base inimiga – ainda bem que ele pode ser desabilitado nas opções do jogo.
Entretanto não seriam pontos como esses acima que manchariam uma obra prima…
Creio que o game possui dois principais problemas que literalmente o impedem de ser não só o melhor Metal Gear da história como também o melhor game já feito até então: a forma como o enredo é contado e a forma como ele é estruturado.
O problema com o enredo: Após inúmeras críticas (infundadas, na minha modesta opinião) com relação ao Metal Gear Solid 4, Kojima modificou a forma de contar a história de sua saga, abdicando das cenas em computação gráfica e inserindo uma série de fitas cassetes para serem escutadas. Grande parte da história, background dos personagens e segredos do jogo só serão descobertos ao ouvir as fitas. Com isso, o ritmo de jogo acaba sendo quebrado quando entre uma missão e outra você literalmente pára tudo para ligar seu walkman. Senta que lá vem a história.
O problema com a estrutura: O jogo, assim como Metal Gear Peace Walker, é estruturado em missões. As missões são divididas em dois tipos: as missões relacionadas à história principal (as chamadas main quests) e as missões que andam em paralelo a estas (conhecidas como side ops) Enquanto isso funciona perfeitamente no Metal Gear Peace Walker – jogo originário do PSP, console portátil da Sony – em Phantom Pain o gameplay parece muitas vezes arrastado e a história perde uma fluidez necessária para que o jogo possa “engatar” de verdade. Por diversas vezes você se vê querendo ir atrás dos mistérios da história principal, mas antes disso tem que passar por missões que parecem não ter nenhuma relação direta com o enredo. Para quem é fã de animes, muitas vezes você se sente jogando um filler.
Além disso, admito que senti falta de uma missão final que realmente faça uma ligação direta entre Phantom Pain e o Metal Gear original. Para quem não tiver medo de spoilers ou já tiver terminado o jogo, deem uma olhada na missão 51 retirada do jogo.
“Quem sabe veremos o final da sua história em um DLC, amiguinho…”
O fim de uma era
Independentemente das críticas, esse é um Metal Gear para entrar na história.
Afinal este é o último Metal Gear feito pelo seu criador, Hideo Kojima. O Metal Gear que encerra um ciclo de 28 anos de história do mundo dos games – uma história sem milking e enrolações! O Metal Gear que colocou na saga um gameplay de profundidade única, unindo os games stealth e os games de mundo aberto de uma forma nunca vista anteriormente. O Metal Gear com mais conteúdo jogável do que qualquer outro jogo da saga. O Metal Gear que apesar de possuir alguns problemas em sua estrutura de enredo, consegue entregar uma história consistente e com um plot twist surpreendente no final.
Se você ainda não jogou, está cometendo um sacrilégio.
Você não vai deixar o Snake esperando, vai?
Nota: ( 4 de 5 )
Excelente!
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Sinto cheiro de fanboy!
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