Resenha: Life is Strange

LiSLogo“Com grandes poderes…”


O farfalhar das asas /

A história da criação do jogo já começa com uma controvérsia. O fato de ele ser protagonizado por duas mulheres e ainda por cima mulheres adolescentes. Indo na contramão das paradigmáticas publishers que ainda insistem que não há público para jogos estrelados por mulheres. Uma grande falácia. A Dontnod em seu track record já tinha o esquecível Remember Me (é eu sei, péssimo trocadilho). Esquecível no sentido do puro gameplay, que era chato e banal. Porém não nos seus conceitos e com também uma mulher estrelando a história e ainda por cima não caucasiana. Os executivos da Capcom devem ter explodido todos os neurônios nessa ocasião. Infelizmente o game não vendeu muito bem, saindo de graça na PSN Plus posteriormente. O que acabou reforçando o raciocínio dos engravatados. Curioso notar entretanto, que o fracasso se deve ao jogo em si mesmo, e não a sua abordagem. A receita de gameplay não funcionou muito bem com o tipo de história e profundidade com que queriam abordar certos temas.

RemeberME
“Neurônios explodidos.”

Então quando a Dontnod veio com a proposta do Life is Strange, que seria puramente focado na história e personagens, e dividido em episódios, ela ouviu diversas negativas dos mais diversos dinossauros da indústria. Pedindo até mesmo para mudar as personagens. Provavelmente por caras fortes segurando shotguns.

LiSFake“Hum… vende que nem água no deserto.” – Executivo Dinossauro

Até que a Square Enix, aceitou publicar o jogo. Sem tirar nem pôr. E que decisão acertada.

De uma borboleta pode causar /

Life is Strange conta a história de Maxine Caulfield, que voltou recentemente para a sua cidade natal de Arcadia Bay, depois de um longo hiato, para cursar fotografia. Em um dos seus devaneios na sala de aula, ela vê um tornado gigantesco se aproximando. Sendo o último refúgio disponível, um farol, destruído em sequência e Max, soterrada nos escombros. E então ela acorda.

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Para se recuperar do susto, ela procede ao banheiro e lá presencia um assassinato. Max fica totalmente transtornada e como num passe de mágica, consegue rebobinar o tempo até o momento em que acordava do seu pesadelo em sala de aula. Não acreditando no que aconteceu, ela volta ao banheiro e consegue impedir o acontecimento. Descobrindo assim que salvara a sua melhor amiga de outrora, Chloe Price.

Max então percebe que o furacão não foi um sonho. Mas sim que ela teve um vislumbre do futuro, e esse futuro vai acontecer em exatos 5 dias.

Além desse problemão que ela não sabe ainda como resolver, ela se vê às voltas dos típicos problemas da sua idade: amizades, bullies, amor, ciúmes, tarefas escolares e por aí vai. Fora isto; a amiga de Chloe que substituiu Max quando ela foi embora; Rachel Amber, sumiu em circunstâncias misteriosas.

O jogo é um point & click tradicional moderno, na fórmula Telltale de ser (5 episódios). Porém devo dizer que a Dontnod caprichou na interface, sendo muito mais interessante. Tudo é mais rápido, fácil de acessar. O log do jogo fica na forma de um diário, como se fosse a própria Max que estivesse escrevendo. É um ótimo detalhe.

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E o gimmick do jogo? Como funciona a questão de voltar no tempo? O poder é representado por uma espiral no canto superior esquerdo da tela, e os pontos-chave marcados por uma bola.

O primeiro episódio é basicamente um tutorial e meio que joga na cara do jogador tudo o que a Max pode fazer e descreve ao máximo as ramificações das suas escolhas. Não é tão ruim assim, mas dura o episódio inteiro. Ao voltar no tempo, Max retém itens e conhecimentos adquiridos em conversas e pode usar isso a seu favor. Além disso, dentro do conhecido modelo de gameplay, há diversos momentos-chave onde escolhas significativas são tomadas (e sim, elas têm efeito lá na frente). Alguns efeitos são difíceis de prever, mas Max consegue dar um insight sobre o que ela fez e você, como player, pode rebobinar ou não para ver a outra escolha. A partir do segundo episódio, o gimmick fica mais escondido e serve também para resolver alguns puzzles dentro da lógica do jogo.

Os gráficos não são espetaculares no sentido moderno (essa é para você, Diogo Moura!), ou seja não parecem o gráfico do The Last of Us. Mas são bonitos e muito detalhados, dá para ler cartazes, pichações e etc. Além de cores muito legais, lembrando um outono (não no Brasil).

O som é um caso à parte e combina muito bem com clima do jogo e o tipo de pessoa que a Max é. A trilha é composta de canções indie rock, inclusive conta com o nosso sueco predileto, José González (o mesmo de Far Away do Red Dead Redemption). Aliás, destaco algumas utilizações de música interligadas com o gameplay que realmente acrescentam ao momento. Muito inteligente e bem moderno. Quanto a atuação, ela deixa a desejar em alguns momentos, com diálogos estranhos e mal interpretados, mas não chega a comprometer.

Um furacão em outro lugar

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Lidando com muitos temas sérios, como alienação, bullying, paranoia, amizade, adolescência x maturidade, Life is Strange é um jogo extremamente marcante. Os episódios são bem construídos e engajam o player na medida certa. Mesmo o primeiro sendo basicamente um tutorial, ele dá o recado.

Contudo, devo destacar o desfecho, onde o esquema do jogo muda radicalmente, tendo até mesmo áreas onde Max deve se utilizar de stealth. E muito mal feito, diga-se de passagem. Além de que o poder de rebobinar que você já estava acostumado mecanicamente dá lugar a outro, porém que não depende da gerência do jogador. Percebe-se que a Dontnod já tinha um final na cabeça e ficou com uma dificuldade em amarrar isso. Mas destaco que as suas decisões têm impacto sim, em vários fatores no tipo de pessoa que a Max é.

Dito isto, há dois finais que o player pode escolher, só que um além de ser rushado, é totalmente oposto ao que os autores descrevem da Max. Não faz sentido com a sua personalidade, pelo menos a que montei durante todo o resto do jogo. Restando apenas de fato, um final e sim, esse final é bem mais completo com diversos elementos. Claramente identificado como o que eles tinham planejado desde o começo.

Life is Strange é um turbilhão de emoções conflituosas. Além de ser um brinde a amizade e a sua importância na vida de cada um. O final é no mínimo comovente, mas também ele teve o poder de me deixar com muita raiva! Mas eu acho que isso é missão cumprida para a Dontnod. Não deixem de conferir este belo jogo.

Nota: LiSNota (4,0 / 5,0)

4 comentários sobre “Resenha: Life is Strange

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